Breve resumo de "Crepúsculo dos Ídolos", de friedrich Nietzsche
- Beatriz
- 29 de abr. de 2021
- 9 min de leitura
Oi, pessoal! Faz um tempo danado que não apareço por aqui - tipo uns dois anos hahaha. Se você é um dos poucos que acompanham esse blog, me desculpe por ter te deixado sem conteúdo todo esse tempo. Vou tentar ser mais ativa por aqui, eu prometo.

Bom, a postagem de hoje é sobre uma leitura que fiz recentemente. Em 2020, no começo do ano, comprei Crepúsculo dos Ídolos, do Nietzsche, porque 1) era um livro barato e 2) eu queria começar a ler coisas sobre Filosofia, que é uma matéria que gosto muito. Foi aí que começou a minha jornada. Mas aqui não vou me aprofundar tanto sobre minhas impressões do livro - já fiz uma resenha no meu Instagram, que você pode conferir clicando aqui. O que quero tentar discutir por agora é sobre o conteúdo dele. Mas, antes disso, eu preciso ambientar vocês sobre o livro e o seu autor - pois caso contrário, nada do que eu falar aqui vai fazer sentido. Vou resumir a ideia dos capítulos que considerei mais relevantes. Então, senta, que lá vem história!
Para começar, vale ressaltar que esse livro em específico foi uma obra que o próprio Nietzsche escreveu resumindo tudo o que ele já tinha escrito até então. É um compilado de várias teorias e análises dele. Portanto, quando eu li, eu fiquei bem confusa, porque o formato que ele escreveu foi em parágrafos que pareciam um pouco "desconexos" um do outro (sabe quando você anota várias coisas sobre assuntos diferentes em uma mesma folha?), então parecia que ele simplesmente "jogava" as ideias lá e a "gente que lute" pra fazer as conexões. Vou deixar uma foto aqui pra vocês visualizarem o que eu tô falando.

Pois então... Para entender o livro eu estudei um pouco sobre o filósofo. Inclusive, tenho que indicar a Plataforma do Professor Ferretto, pois foi lá que assisti essas aulas maravilhosas de Filosofia... O Professor Marcondes é ótimo. Mas bem, a partir do momento que fiz isso, a leitura começou a ficar um pouco mais clara - mas continuou não sendo fácil. Conforme fui progredindo fazia anotações. Em um momento também senti a necessidade de ler um artigo, que clareou ainda mais a experiência. Caso você queira ler esse artigo, que eu recomendo muito porque está de uma forma bem didática, clique aqui. E bem, o que vou compartilhar aqui é o que aprendi com a leitura do livro, do artigo, e com as aulas que vi.
SOBRE O AUTOR E SUA VISÃO DE MUNDO
Quem conhece um pouquinho do Nietzsche sabe que ele era um cara bem crítico. A Filosofia dele é conhecida como "Filosofia do Martelo", porque basicamente o que ele faz é destruir. Ele desce a lenha em todo o tipo de instituição, religião, TUDO. A frase que ilustra essa obra, e consequentemente todo o seu pensamento, é: "há mais ídolos que realidades neste mundo". A partir disso, ele traz um pouco de todos esses "ídolos" (entenda por ideais, concepções) e destrincha um por um, dizendo o porquê ele não simpatiza com esses elementos. Fica perceptível também um pouco do machismo que muita gente diz que ele tem. Tem passagens que ele chama mulheres de vacas, literalmente. Dizem que antes ele era um homem que apoiava causas femininas, mas depois que teve uma decepção amorosa ele começou a odiar mulheres e descontar sua frustração nelas. E cá entre nós... nada novo sob o sol, né não? Tá cheio de cara desse tipo aí no mundo. Choremos.
Apesar disso, gente, em se tratando de outros aspectos de sua filosofia e analisando esse cara friamente, ao ler o livro dele, confesso que eu tenho que aplaudi-lo: o poder de argumentação dele é INSANO. Você pode não concordar com quase nada do que ele diz (como eu, por exemplo), mas não pode dizer que o que ele diz não faz sentido lógico na maioria das suas abordagens. Em alguns momentos me bateu a famosa crise existencial depois de ler um pouco.
NIETZSCHE E "O PROBLEMA DE SÓCRATES"
O livro começa trazendo algumas frases dele, e depois, inicia com um capítulo inteiro meio que trazendo um compilado do que ele falou sobre o Sócrates. Como eu já disse pra vocês, o Nietzsche destruía qualquer concepção ou conceito. Ele odiava paradigmas. E o fato de ele dedicar um capítulo inteiro só sobre o Sócrates nos mostra que Friedrich não curtia a galera que veio antes dele (Sócrates, Platão, Aristóteles... < com uma certa exceção dos Pré-Socráticos >), o que ele confirma ao dizer que "enxergou traços de decadência" nesses autores. Na visão do filósofo alemão, esses caras só serviram pra criar padrões na sociedade. E se tem uma coisa que o Nietzsche odiava era padrões. Então, tomando essas características por base, ficava evidente na obra que o Nietzsche era contra os padrões sociais pelo fato de eles contradizerem a natureza humana. A decadência que ele evidenciou nos outros filósofos diz respeito ao fato de que, com a criação da moral, os seres humanos pararam de seguir seus instintos, e por causa disso, estaríamos regredindo. Em suas palavras: "...estar obrigado a lutar contra os instintos: essa é a fórmula da decadência..."
A RAZÃO, OS SENTIDOS, A VERDADE E A RELIGIÃO PARA NIETZSCHE
Discorrer sobre a razão fica a encargo do segundo capítulo do livro. Aqui, temos mais um compilado do que o nosso pensador concluía sobre o tema. Ele dizia que estava aberto a considerar o conhecimento sobre diversas perspectivas, mas pra ele, a razão era apenas uma ilusão. Bora pensar: a razão não é uma busca pela verdade? Pro Nietzsche, a verdade não existe, então não faz sentido essa busca tão árdua. Mas ele não dizia que era impossível conhecermos coisas sobre o mundo, o que ele criticava era esse "endeusamento" da razão que ele via sendo atribuído pelas pessoas. Dentro desse contexto, ele faz uma comparação muito interessante sobre ciência e religião: pra ele as duas não são tão distintas assim. Enquanto os religiosos têm sua fé nos deuses, os cientistas têm fé na razão - portanto, de acordo com suas respectivas perspectivas, ambas são consideradas como verdades, e verdades não existem para Nietzsche -. Resumindo: ele critica a Ciência e a Religião, e até certo ponto, até mesmo a Ciência pode ser considerada um dogma pra ele - se for idolatrada da mesma forma que deuses.
Dadas as circunstâncias, o Nietzsche diz que ele acredita na construção de um conhecimento que venha a partir as interações dos indivíduos, e nega qualquer coisa de caráter transcendental. Em um dos capítulos ele diz que "a prática da Igreja é nociva à vida", ao passo que ela meio que "poda" tudo aquilo que os nossos instintos pedem através de suas doutrinas. É tipo "quero fazer tal coisa, mas não posso, porque é pecado". A moral da Igreja, para Nietzsche, é radical demais. Em um dado momento, ele aponta aquela situação em que a doutrina cristã afirma que "o vício e o luxo levam a perecer uma raça ou um povo", e se contrapõe com a ideia de que "o povo perece, e por isso se degenera". Ou seja, quando o indivíduo já está decadente, é que ele fica vulnerável aos vícios e luxos da vida, e não o contrário. E ele fica vulnerável justamente por ir contra os seus instintos. Gente, eu sei que parece uma ideia um pouco confusa.. mas espero que tenham entendido da forma como eu coloquei.
A CRÍTICA AOS QUE QUEREM "MELHORAR" A SOCIEDADE
Em se tratando dessa crítica, aqui ele vai mais uma vez falar o que incomoda nele a respeito da Igreja, e se aprofunda ainda mais no que há de negativo a respeito da moral. Acho que não tem outra coisa a fazer senão transcrever o que ele mesmo diz, pois está claro o seu posicionamento nessa questão. Então, vou colocar aqui o trecho do livro pra vocês:
"Em todos os tempos se quis melhorar os homens: é isso que, antes de tudo, foi chamada moral. Mas sob esta mesma palavra "moral" se ocultam as tendências mais diversas. A domesticação do animal humano, bem como a criação de uma espécie determinada de homens são um "melhoramento": esses termos zoológicos exprimem unicamente realidades. Quem sabe o que acontece nos estábulos, duvido muito que o animal seja neles "melhorado". É debilitado, é tornado menos perigoso, pelo sentimento depressivo do medo, pela dor e pelas feridas se faz dele um animal doente. Não acontece outra coisa com o homem domesticado, que o sacerdote tornou "melhor" (aqui você pode pensar que ele está fazendo uma alusão à catequização dos indígenas). [...] Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo. A Igreja compreendeu isso perfeitamente: ela perverteu o homem, tornou-o fraco - mas ela reivindicou o mérito de tê-lo tornado 'melhor' ".
Pesado, né gente? Sé louco.
A LINGUAGEM E A CONSCIÊNCIA
Outras coisas que ele aborda são as questões da linguagem humana (essencialmente como meio de nos comunicarmos) e da consciência. Ele fala disso no livro, mas eu confesso que só consegui captar a mensagem após a leitura do artigo que linkei pra vocês aí em cima. O que ele reflete é o seguinte: a linguagem não traduz pensamentos, são apenas metáforas. Pensadores platônicos diziam que as palavras podiam traduzir com plena totalidade tudo o que pensamos, e o Nietzsche vem com os dois pés e diz que não. Ele fala que esses pensadores se esqueceram de separar discurso e realidade: não há como ambas serem uma só, isso é ilusão. Deixo aqui o que o próprio falou: "acreditamos saber algo acerca das próprias coisas, quando falamos de árvores, de cores, neve e flores, mas, com isso, nada possuímos senão metáforas das coisas, que não correspondem, em absoluto, às essencialidades originais."
No que diz respeito à consciência, a coisa não é diferente. Pra ele, a consciência humana não passa de uma ilusão (tudo pra ele é uma ilusão né, crendeuspai). E eu achei interessante o que ele disse a respeito do porquê que a consciência surgiu. Ele bate de frente com a ideia disseminada de que somos dominantes sobre os outros animais. Partindo desse pressuposto, ele justifica o surgimento da consciência como uma ferramenta que encontramos para nos destacar entre os animais. Justamente por sermos mais fracos que os outros, precisamos criar uma relação, uma conexão com outros indivíduos de nossa espécie, para que assim, a gente conseguisse se sobressair sobre as outras. E essa conexão seria a consciência: uma forma de espalhar a mensagem de que devemos proteger o nosso semelhante e nos proteger. Captaram o esquema?
A ARTE
E aqui temos um milagre: a arte é um dos únicos tópicos que Nietzsche valoriza. Ele diz: "Para que haja arte, para que aja uma contemplação estética qualquer, uma condição fisiológica preliminar é indispensável: a embriaguez". Essa embriaguez seria deixar levar-se pelo que vê, pelas emoções... pelos seus instintos. Não há nada mais expressivo pra ele do que a arte; ela é a expressão máxima do indivíduo. Por tudo o que a gente falou até aqui, deu pra entender o porquê de a arte ser tão importante pra ele, né? E realmente, a liberdade de expressão que temos através da arte é gigantesca. Nessa nossa sociedade, poucas coisas deixam o indivíduo dar vazão ao que ele sente genuinamente, e a arte é uma delas. É isso o que ele quis dizer.
CONCLUSÃO
Pessoal, esses foram os pontos que eu mais achei relevantes no livro e que resolvi trazer pra vocês aqui, bem resumidinho, como uma forma de me fazer relembrar aquilo que li e talvez ajudar vocês que têm curiosidade em conhecer mais sobre o Nietzsche, esse cara que costuma ser bem polêmico. Tem muito mais que isso, é claro; mas o post ficaria cansativo.
Entretanto, meus queridos, me vejo no dever de fazer uma ressalva: mesmo que a gente conheça o Nietzsche por querer destruir e quebrar paradigmas, tenho que colocar aqui que, ao final de tudo o que ele critica, ele propõe a reconstrução de tudo o que destruiu, mas de uma forma diferente. Ele quer que todos os dogmas sejam descartados, e fala sobre uma Transvaloração - a criação de novos valores. Esses novos valores devem dizer "sim" à vida (já que ele afirma que a moral que nos modela como sociedade vai contra os nossos instintos, e por consequência, contra a nossa própria vida). Na visão dele, temos que aceitar o nosso destino (é o que ele chama de amor fati). Com ele é tipo: "se eu vou morrer, pra quê vou tapar o Sol com a peneira me apegando à crença de que minha alma é imortal?" Por isso, temos que nos entregar à vida, pois ele afirma que nunca seremos punidos ou recompensados por nossas ações depois que a gente bater as botas. Nós somos corpo! ----- acho que falando dessa forma dá pra entender bem o que ele pensava hahaha.
Anyway, amados. Se vocês forem perspicazes (e eu sei que são) saberão que essas coisas que discutimos aqui podem facilmente serem abordadas em redações. Se você é vestibulando, procure entender essas teorias dele, e ficará mais fácil você fazer alusões sobre ele em seus textos. Acredito que temas como Preconceito Linguístico, aqueles que envolvem debates sobre Arte ou qualquer outro que você se lembrar, dá pra encaixar. O que vale é entender a essência das coisas, e você se sairá bem em suas argumentações, pois é sempre assim: quando a gente menos espera os insights sobre tudo o que aprendemos aparecem na nossa mente. Eu espero que esse tempinho que você tirou pra ler isso tenha sido proveitoso pra você! Comenta aqui embaixo caso queria debater sobre algo, falar suas impressões sobre tudo o que eu escrevi ou até mesmo criticar de forma construtiva. Estou aberta ao que vocês têm a me dizer com muito prazer <3
QUE A SABEDORIA ESTEJA COM VOCÊ!
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